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Observações sobre “Consumidoras e Heroínas” – Texto de Heloísa Buarque de Almeida.

O texto se trata de uma discussão sobre a feminilização do consumo e a construção de certa imagem feminina hegemônica nas novelas e nos anúncios presentes nos comercias de televisão. Dessa forma, a tecnologia do gênero” e o “espírito do consumismo” são ideias centrais do artigo.

A autora propõe analisar a correlação entre as telenovelas, consumo e gênero, buscando compreender como a mídia está articulada à promoção de bens e da cultura do consumo e como o gênero é um eixo importante em tal articulação.

Por meio da etnografia realizada no ano de 1997 com a recepção da novela O Rei do Gado, a autora tenta compreender como as pessoas interagem em seu cotidiano com a novela e como interpretavam os personagens e a narrativa. Nessa tentativa, a autora parte da hipótese que há variações no modo de interpretar as novelas, de acordo com as condições sócio-econômicas. Ao realizar tal estudo, Heloísa Buarque Almeida encontra também um campo de análise sobre as formas de poder presentes na TV comercial, relacionado ao seu papel econômico, cultural e comercial para promover o consumo.

O consumo, por sua vez, é cada vez mais associado a um habito domiciliar e o domiciliar associado ao universo feminino. Mesmo produtos até então comprados por homens, como carros e serviços bancários.

A novela como vitrine, a propaganda como pano de fundo e a mulher como potencial consumidora são os elementos que solidificam a relação entre a mídia, mais precisamente novelas e comerciais, com a homogeneização da feminilidade enquanto gênero.

Existe uma “negociação de sentidos nos textos da indústria cultural”, como define Gledhill. Como a programação é veiculada por todo o país, as telenovelas ao mesmo tempo que apresentam a figura feminina bem resolvida no amor e no sexo, e independente financeiramente como símbolo da modernidade, a telenovela também incorpora alguns valores morais, para atender também o perfil do consumidor de regiões mais tradicionais em seus costumes. É preciso ainda, que a novela possua personagens com personalidades, faixa etária, sexo e comportamento distinto para que se aproxime do maior número de telespectadores. O próprio texto da novela, mesmo que não tenha merchadising , mostra uma série de produtos, como usá-los ecomo as pessoas se diferenciam e se distinguem numa sociedade de consumo através desses bens”. (Almeida; 2007). Ou seja, as telenovelas atuam de forma estratégica para atrair um universo variado de telespectadores, associando comportamentos à produtos e estilos de vida.

A novela como vitrine possibilita também os merchandising, que são formas caras, porém eficientes de inserir no cotidano dos personagens produtos específicos, e por fim, no cotidiano dos telespectadores.
Anunciantes e produtores são cientes do poder da mídia para influenciar e até construir um padrão de comportamento, portanto é na mídia que os anunciantes destinam a maior parte dos seus investimentos de publicidade.
O meio publicitário considera que a televisão é a maior mídia do país, capaz de vender uma imensa gama de produtos. Os publicitários e produtores associam a urbanização e desenvolvimento do país à sua relação com o consumo, portanto seriam eles os responsáveis pela educação dos hábitos destes hábitos da população. Dessa forma o telespectador é transformado em consumidor.

A segmentação da audiência é um fator relevante para uma emissora como a Rede Globo que consegue atingir amplos setores da sociedade em diferentes regiões do país, com focos nos centros urbanos.
A relação simbólica de Pierri Bourdieu é um fenômeno importante na análise da autora, pois é través dos símbolos que a televisão se apropria de imagens e tipos específicos, podendo dessa forma ser reinterpretado no imaginário coletivo e ser introduzido no cotidiano das famílias, neste caso, mais especificamente das mulheres. A equipe de técnicos produtores da televisão é responsável por este “filtro” e seleção de elementos que serão inseridos no cenário televisivo, reforçando determinados tipos em construção.

Os produtores impulsionados para atender os índices de audiência e a todas as camadas de público, tendem a privilegiam o que consideram ser “consensual” para camadas médias e populares, que compõe a maior faixa de audiência.

A mídia extrai tipos específicos existentes na sociedade e reintrojeta elevando-a ao todo e a repetição das imagens através de seus símbolos são recriados pela sociedade que reinterpretam os símbolos e o reafirmam como real, quando introjetados em seu cotidiano. Em uma lógica circular, a relação mídia e sociedade é reinventada e gênero atravessa e articula todas as esferas. A tipificação dom sujeito vai além do consumo, quando promove conflitos afetivos, sendo possível que uma dona de casa se identifique com o rei do gado pela relação conflituosa que ambos possuem com os filhos. A identificação do “eu” aproxima o expectador dos personagens e muitas vezes até refletem algumas questões pessoais, e quando estas relações entram em choque com os seus valores hegemônicos atribuem um olhar reflexivo e parcialmente crítico sobre o que está sendo veiculado.

Ao apresentar a figura feminina através de tipificações de comportamentos tidos por “ideais”, as telenovelas funcionam como uma tecnologia de gênero, pois “constrói concepções de masculino e feminino que se tornam, ao longo dos anos de convivência com essas histórias, construções hegemônicas”. (Almeida 2007).

A imagem da super-mulher-ideal é materializada na figura feminina criada para corresponder os diversos tipos morais e comportamentais idealizados pelas diferentes esferas da sociedade.

Breves considerações sobre O Anti-Édipo

Livro escrito pelo filósofo Gilles Deleuze e pelo médico psiquiatra e psicanalista Felix Guattari. Prefácio de Michell Foucault.

A obra foi escrita em um período emblemático para a França, Maio de 1968. Talvez por este motivo a obra esteja repleta de reflexões que possibilitam uma nova perspectiva para o pensamento moderno. Neste prefácio encontramos um texto revolucionário que propoe o rompimento com as correntes de pensamentos comprometidos com teorias ideológicas ou que condicionam o homem a uma determinação conceitual.

“Durante os anos de 1945-1960 (falo da Europa), havia uma certa maneira correta de pensar, um certo estilo do discurso político, uma certa ética intelectual. Era preciso estar com Marx, não deixar seus sonhos vagabundearem  muito longe de Freud”.

No prefácio da obra é possível encontrar indícios daquele que se tornaria um pensamento de combate à determinação conceitual e ao combate do fascismo militante e do fascismo que segundo o autor, está presente em todos nós.

“Libere a ação política de toda forma de paranóia unitária e totalizante”.

             O texto é revolucionário e libertador, pois sugere um novo caminho à ciência. Sugere ao leitor compreender e libertar a potência revolucionária, não  necessariamente descartando as antigas formas de observar as relações humanas, mas sugerindo que se busque compreender como as coisas acontecem e não somente com seu porque.

Não exija da ação política que ela restabeleça os “direitos” do indivíduo, tal como a filosofia os definiu. O indivíduo é o produto do poder. O que é preciso é “desindividualizar” pela multiplicação, o deslocamento e os diversos agenciamentos. O grupo não deve ser o laço orgânico que une os indivíduos hierarquizados, mas um constante gerador de “desindividualização”.

O texto também possui um caráter ético ao propor que não utilizemos o pensamento para dar a prática política um ar de verdade, e sim a prática política como um intensificador do pensamento.

“Não utilize o pensamento para dar a uma prática política um valor de verdade; nem a ação política, para desacreditar um pensamento, como se ele fosse apenas pura especulação. Utilize a prática política como um intensificador do pensamento, e a análise como um multiplicador das formas e dos domínios de intervenção da ação política”.

Portanto a ideia central da obra está na liberdade do homem e trata-se de um combate ao fascismo apresentado em todas as as suas formas.

Briga de gigantes…

Uma curiosidade interessante que possibilita compreender melhor o posicionamento de dois grandes pensadores.

Como e porque Sartre brigou com Foucault (extraído do blog http://filosofiadetododia.blogspot.com.br).

Foucault (1926-1984) e Sartre (1905-1980), ambos filósofos franceses, que muitas vezes lutaram pelas mesmas causas na política interna da Fança, estavam em lados opostos em suas concepções filosóficas. Em temas como o marxismo, o sujeito humano, sua existência, as ciências humanas, a teoria sobre a história – a disputa foi acirrada.

Sartre e Foucault nos anos 70, vendo-se atrás deles Deleuze

Sartre discordou da análise de Foucault sobre a história, este “esqueceu a história”, pois não diz como os acontecimentos se transformam em função do movimento dialético (veja postagem sobre a dialética marxista). E pior, Foucault “matou o homem”, que não passa de um sujeito assujeitado e constituído por saberes de certa época. Quer dizer, Foucault despreza a dignidade e a liberdade humanas. Os estruturalistas visam constituir, sempre segundo Sartre, uma nova ideologia, burguesa, se recusam a prestar atenção às relações de produção, à praxis e consideram que a estrutura da linguagem é mais importante do que a história material e social. Ora, argumenta Sartre, a linguagem é inerte, uma rede de oposições e de regras, de onde o homem está ausente.

Em suma, para o existencialismo sartreano, que aos poucos se tornou um marxismo sartreano, sem o homem concreto, abolindo sua existência e a história dos modos de produção que o transformam, Foucault comete, proclama Sartre “um escândalo lógico”. O homem é mais do que as estruturas que o condicionam.
Foucault sustenta algo muito diferente. Para ficarmos só com As Palavras e as Coisas (1966), para ele a história não é feita de passagens, mas de cortes, diferentes práticas de saber para falar, para situar e lidar com os acontecimentos. Acontecimentos são fabricados, inclusive esse humanismo que vê o homem como pura existência, genérica. A história produz lutas, mas muitas delas nada têm a ver com classes sociais. O próprio marxismo surgiu de condições históricas, Marx é um peixe nas águas do século 19, há que compreendê-lo e lê-lo nesse “ambiente”. Ele escreveu sobre uma dessas situações históricas: conflitos no nascimento do capitalismo moderno. Conhecimentos só podem nascer de circuntâncias que os homens produziram, o que, diga-se de passagem, Marx sabia. O que ele não sabia, tampouco Sartre, é que não há nada por detrás, nem um projeto de avançar para o socialismo, nem a existência como essência do homem.
Foucault não pretende que uma ideologia deva servir à revolução de que classe for. Não há revolução de classe que acabe com as diferenças, com ciências que marcam e classificam, como a psiquiatria. As transformações históricas não têm uma causa geral ou única. Foucault não negou a história, ele mostrou que a história pode ser vista de outra forma. Ele não foi um antihumanista, ele foi o cartógrafo dos saberes que permitiram o surgimento da figura do homem como alguém vivo, que trabalha e fala. Essa figura é recente. Se pensarmos no modo como Platão, por exemplo, via o homem – alma imortal presa a um corpo, e como nós hoje nos pensamos, e como certos saberes nos produziram como seres finitos, sujeitados a normas , a técnicas, a ciências, nada disso nos “humaniza”, tudo isso nos tiraniza.
Na entrevista em que Foucault, com 38 anos, rebate a acusação de Sartre de que ele despreza a subjetividade e o humanismo (um dos escritos mais difundidos de Sartre chama-se , aliás, O existencialismo é um humanismo), Foucault responde: o esforço feito pela nossa geração não é o de reivindicar o homem contra o saber e contra a técnica, mas o de mostrar que nosso pensamento, nossa vida, nosso modo de ser, até o mais cotidiano, fazem parte da mesma organização sistemática, dependem das mesmas categorias que regem o mundo científico e técnico.
O que ele quis dizer com isso? O homem não tem uma essência pura, ele não está salvo se o livrarmos dos condicionamentos. Em nossa época predominam os saberes técnicos, das várias ciências, a tecnologia. DNA, exames, testes, diagnósticos, controlar, produzir, empreender, obter sucesso, comunicar -, é isso que nossa “humanidade” carrega.

O Relativismo Ocidental e o Perspectivismo Ameríndio

“Outra coisa, não disse Cunhambebe, o chefe tupinambá, quando Hans Staden, vendo-o saborear uma perna de inimigo, argumentava aterrado que sequer as bestas selvagens comiam seus semelhantes. Com humor, algo Zen, Cunhambebe apontou para o abismo que o separa do europeu. Não disse: não, isto que como, meu inimigo, não é meu semelhante, é um animal…Ele disse: Eu sou o inimigo, Eu sou um jaguar; e está muito gostoso“. (Viveiros de Castro, 1984).

Eduardo Viveiros de Castro ao etnografar os povos ameríndios, observa que cada ser é um centro de perspectivas no universo e todo acontecimento é no mínimo dois. Dessa forma, Viveiros de Castro é o primeiro antropólogo a abordar as relações entre os seres pertencentes à cosmologia dos ameríndios através do perspectivismo, e o resultado desse trabalho trouxe contribuições para o campo da antropologia, que até então seguia teorias relativistas que não poderiam ser aplicadas para uma relação tão complexa quanto as existentes entre os ameríndios e os seres que fazem parte das suas relações.

O relativismo corresponde a uma análise tipicamente ocidental, e defende que certos princípios organizadores sociais (como a moral) são fatores resultantes da cultura, e que todas as interpretações são reais dentro de realidades diferentes. Enquanto o perspectivismo pressupõe que toda percepção tem lugar a partir de uma perspectiva que é alterável, ou seja, existe uma única realidade que é alterável conforme a perspectiva de cada um frente à realidade.

Nas cosmologias indígenas o mundo é povoado por muitas espécies (humanos e não humanos) e o mundo está dotado de consciência e cultura, e cada espécie se vê como humano e as demais como não humanas, e nesta relação às espécies atribuem sentidos diferentes que dialogam entre si e com todos os acontecimentos. Este é um circunstancialismo, onde todo mundo é humano de antemão.

O relativismo coloca o antropólogo em condição desigual com o nativo, pois este quando denomina o outro por nativo já pressupõe que existe uma condição desigual de interpretar o universo, e o antropólogo é aquele que toma a palavra discursiva para interpretar o sentido do outro, transformando-o em matéria que não detém sentido do seu próprio sentido, como ressaltou o autor em “O nativo relativo”. Eduardo Viveiros de Castro polemiza essa questão e propõe ao antropólogo inverter o jogo, ou seja, abdicar da sua posição de “conhecimento de causa” para tornar-se o observado, a fim de observar os sentidos atribuídos pelo outro em suas relações com os sujeitos, e é a partir da observação do ponto de vista dos índios sobre o ponto de vista  que um universo de relações dotadas de sentidos começam a aparecer para o observador. Em “Perspectivismo e multinaturalismo na América indígena”, Eduardo Viveiros de Castro enfatiza que a capacidade de ocupar um ponto de vista depende do grau e da situação, alguns não humanos atualizam a “personitude” e “perspectiva” de modo mais completo.

O perspectivismo raramente se aplica em extensão a todos os animais, geralmente ocorre com grandes seres predadores, tais como o jaguar, a sucuri, ou sobre presas típicas humanas, como os peixes e os veados por exemplo.          A oposição comum entre os humanos e os animais, não é a animalidade, e sim a humanidade, para os ameríndios a humanidade é uma condição, o que deixa em evidência um aspecto importante sobre os ameríndios: a distinção entre espécie e condição.

Existe uma valorização simbólica da caça por esta representar o campo onde as interações entre os humanos e não humanos se relacionam.

Observando os Jurunas, percebe-se que eles são para os porcos uma espécie de inimigo e portanto um não humano  (e por isso os Jurunas são caça para os porcos). Enquanto para os Jurunas os porcos pertencem à atividade da caça, e é através dela que se concretiza a relação com os porcos. A relação dos porcos com os Jurunas está dotada de significado para ambas as partes, pois enquanto os porcos para os Jurunas representam perigo por entenderem que os Jurunas são inimigos não humanos, os porcos para os Jurunas representam espíritos não humanos. Os Jurunas pensam que os porcos pensam que são humanos, e por eles saberem que não são, sabem do risco que é esta interpretação dos porcos para eles. É correto afirmar que os porcos estão para os Juruna assim como os Juruna estão para os porcos.

A onça, por exemplo, se vê como humano e não nos vê como humano (nós nos vemos como humanos) e estas são duas perspectivas que dialogam através das experiências de cada parte, diferente do relativo que depende do tempo e do espaço. No perspectivismo ameríndio uma relação social é uma relação entre sujeitos, mesmo quando as espécies são diferentes elas dialogam atribuindo diferenças entre si.

Eduardo Viveiro de Castro enfatiza que o xamanismo também tem uma valorização singular, pois os xamãs possuem a habilidade de “cruzar deliberadamente as barreiras corporais e adotar a perspectiva de subjetividades alo-específicas de modo a administrar as relações entre estas e os humanos”.p.231.

O xamanismo é uma forma de agir que implica um modo de conhecer, e conhecer é um personificar, “tomar o ponto de vista do que quer se tornar conhecido”, ou seja, do outro sujeito ou agente e a forma do outro é a pessoa.

Para os ameríndios existe a unidade de espíritos e a diversidade de corpos, a cultura seria a forma do universal e a natureza ou o objeto a forma do particular.

O autor se distancia do antropomorfismo e afirma que todos os seres veem o mundo da mesma maneira, o que muda é o mundo que eles veem e dessa forma Eduardo Viveiros de Castro distancia sua abordagem também do relativismo cultural que supõe uma diversidade de representações (subjetivas e parciais). O perspectivismo não é uma representação, porque as representações são propriedades do espírito, mas o ponto de vista está no corpo.  O corpo possui uma importância, e sua forma visível é um signo importante, e é composto não pela sua fisiologia e sim por um conjunto de modo der ser que resultam no habitus, e por isso muitas vezes o corpo pode ser enganador, quando a aparência de um humano pode estar ocultando uma afecção-jaguar, por exemplo. A diferença dos corpos só pode ser captada pelo ponto de vista exterior, uma vez que para si mesmo, cada sujeito possui uma forma humana, portanto o corpo é a origem das perspectivas.

Viveiros de Castro entrevista Lévi- Strauss nos Anos 90

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Fonte:

Mana Print ISSN 0104-9313 Mana vol.4 n.2 Rio de Janeiro Oct. 1998 doi: 10.1590/S0104-93131998000200006
ENTREVISTA :
Lévi-Strauss nos 90 a antropologia de cabeça para baixo
Eduardo Viveiros de Castro

Viveiros de Castro

Vejo que se trata aqui [“Voltas ao Passado”] de suas relações com Merleau-Ponty…
Lévi-Strauss
Os autores dizem que Merleau-Ponty deu as costas para mim. O que lhes atrapalhou enormemente, é claro, é que Merleau-Ponty havia publicado um texto muito caloroso a meu respeito. Então, eles dizem: “ele parece caloroso, mas isso é falso; na realidade, trata-se de um texto que é profundamente hostil a Lévi-Strauss, e que marca divergências fundamentais”. O que os autores não sabiam é que o artigo de Merleau-Ponty é o memorial que ele leu perante a assembléia dos professores do Collège de France para a criação de minha cátedra.
Viveiros de Castro
Mas em “De Mauss a Claude Lévi-Strauss” não se acha nenhuma crítica.
Lévi-Strauss
Pois se era o memorial para a criação de minha cátedra …
Viveiros de Castro
Nota-se hoje uma retomada do interesse por Merleau-Ponty entre os antropólogos.
Lévi-Strauss
Ele está efetivamente retornando, e isso me deixa muito contente.
Viveiros de Castro
A propósito – vejo que o tema figura em sua resposta -, por que pensa o senhor que sua distinção entre “história quente” e “história fria” deu lugar a tanta incompreensão, sobretudo nos países de língua inglesa?
Lévi-Strauss
Porque ninguém se deu ao trabalho de refletir. Havia uma velha distinção, povos com história e povos sem história, então eles dizem que minha distinção é idêntica a essa…
Viveiros de Castro
Tal mal-entendido não se deveria à assimilação de sua distinção a idéias de que a antropologia anglo-saxã queria se livrar: Malinowski, Radcliffe-Brown, a ênfase na sincronia etc.?
Lévi-Strauss
Mas foram eles que congelaram essas sociedades, não eu!
Viveiros de Castro
Agora essas sociedades “frias” parecem estar esquentando, não é mesmo?
Lévi-Strauss
Sim, é justamente o que digo em meu artigo: elas estão esquentando, ao passo que as nossas esfriam. Na França isso é muito claro: o interesse pelo patrimônio, os esforços para se reencontrarem as raízes…
Viveiros de Castro
Diz-se com freqüência, nos Estados Unidos, que os cultural studies vão acabar com a antropologia, o que pensa o senhor?
Lévi-Strauss
Com efeito, falo justamente disso em minha resposta… O artigo dos Temps Modernes diz que a antropologia moderna é Rosaldo… E que agora é só isso que interessa…
Viveiros de Castro
E o que pensa o senhor disso?
Lévi-Strauss
Mas o que posso pensar disso?… (risos).
Viveiros de Castro Com efeito, parece-me que há alguns conceitos-chave da antropologia que hoje estão a ponto de se tornar impronunciáveis: diferença, alteridade… Eles agora são politicamente suspeitos.
Lévi-Strauss
A antropologia virou de cabeça para baixo, sem dúvida. Seria preciso recolocá-la de pé. Mas isso não seria nem um pouco politicamente correto…
Viveiros de Castro
Como o senhor vê os resultados obtidos pelas novas tendências cognitivistas na antropologia? Elas estão cumprindo o programa que o senhor traçou, de reformular a antropologia como uma psicologia?
Lévi-Strauss
Sim, mas tratava-se de algo muito menos ambicioso, quando me exprimi assim… Penso que o que fazem os cognitivistas é muito interessante; houve progressos incontestáveis. O perigo, entretanto, é que eles estejam a criar uma nova escolástica, e que tudo isso se torne tão abstrato que… Não posso mais acompanhar o que vem sendo feito, e não pretendo fazer disso um argumento, mas, de modo geral, minha impressão é que o cognitivismo começa a perder o contato com a realidade.
Viveiros de Castro O senhor não pensa então que os resultados sejam encorajadores? Na França, por exemplo, temos as pesquisas de Sperber…
Lévi-Strauss
Assim me parece, mas… Isso é provavelmente uma questão da idade que tenho e da época a que pertenço, mas o começo me parece ter sido muito mais interessante do que o que se faz hoje em dia. Quanto a Sperber, não compreendo nada do que ele escreve! Enfim, essa história de epidemiologia, isso me parece uma tal volta ao passado…
Viveiros de Castro Em geral, o senhor crê que a etnologia faz uma grande volta ao passado?
Lévi-Strauss Não, eu me dirigia aos Temps Modernes, em particular. Creio que há coisas que não ousamos mais dizer, e que é preciso dizer, ou em breve não se compreenderá mais coisa alguma. É preciso afinal dizer que a antropologia é uma disciplina que nasceu no século XIX; ela é a obra de uma civilização, a nossa, que possuía uma superioridade técnica esmagadora sobre todas as outras, e que, ciente de que ia dominá-las e transformá-las completamente, disse a si mesma: é urgente que se registre tudo que pode ser registrado, antes que isso aconteça. É isso a antropologia; ela não é outra coisa: ela é a obra de uma sociedade sobre outras sociedades. E quando nos dizem que essas sociedades não são diferentes da nossa, que elas têm a mesma história que a nossa etc., esta não é absolutamente a questão. O que pedíamos a essas sociedades que estudávamos é que elas não nos devessem nada: que elas representassem experiências humanas completamente independentes da nossa. À parte isso, elas podem ter todas as histórias que se queira, mas essa não é a questão. Devem-nos elas o que são, ou não? Se elas nos devem, elas nos interessam moderadamente; se elas não nos devem, elas nos interessam apaixonadamente.
Viveiros de Castro
Nesse caso, à medida que começam a nos dever muito, elas nos interessariam cada vez menos?
Lévi-Strauss
Elas se tornam objeto de outras pesquisas, de outras disciplinas. Se você me permite uma comparação musical, eu diria que a antropologia tal como a concebo, como a conheci, como nossos mestres a praticaram, era tonal, e agora ela se tornou serial. Isto quer dizer que as sociedades humanas não significam mais nada fora de suas relações recíprocas. Porque a nossa se enfraqueceu, porque ela mostrou seus vícios, porque as outras começaram a trilhar o mesmo caminho que a nossa – isso é como as notas em um sistema dodecafônico, elas não têm mais um fundamento absoluto, elas existem apenas umas em relação às outras. Enfim, é assim que as coisas são, teremos uma outra antropologia, como a música serial é uma outra música. Uma antropologia que será tão diferente da antropologia clássica como a música serial é diferente da música tonal.
Viveiros de Castro
Então o senhor não acredita no fim da antropologia, mas em uma mutação?
Lévi-Strauss De fato, não acredito, e por vários motivos. O primeiro é que há ainda algumas possibilidades, como você mesmo demonstrou com os Araweté, Descola com os Jívaro… Nem tudo está acabado; vai acabar logo, mas enfim… não está completamente acabado. Em segundo lugar, há ainda, em toda parte, uma quantidade de coisas a rebuscar, coisas que foram, digamos assim, negligenciadas, e que se pode recolher, que é preciso recolher. O terceiro motivo, é que esses povos mesmos vão em breve dar origem a eruditos, a historiadores de suas próprias culturas, e assim aquilo que foi nossa antropologia vai ser apropriado por eles, e ela será algo interessante, e importante. Então, nem tudo está acabado; isto posto, a velha concepção de antropologia está morta.
Viveiros de Castro Então, de um lado, há essas mudanças objetivas, essas sociedades que se aproximam da nossa; de outro, e no plano teórico, há outra espécie de abertura – penso ainda nos cognitivistas -, a promessa de que finalmente poderemos falar da Cultura como um objeto natural: as capacidades cognitivas da espécie etc.
Lévi-Strauss Sem dúvida, mas sob a condição de que não se pretenda chegar a mais nada que a resultados de ordem formal. Os conteúdos, isso continua a ser história, a experiência dos homens no curso do tempo. Mas que todos tenhamos o mesmo cérebro, e que esse cérebro é fabricado do mesmo modo, sim, sim…
Viveiros de Castro
O que me inquieta, entretanto, é que, se o estruturalismo era uma tentativa de manter unidas a experiência histórica e a forma, o particular e o universal, o que vemos hoje é que esses dois lados estão cada vez mais separados, senão mesmo em guerra aberta…
Lévi-Strauss
Sim, isso é profundamente verdadeiro. O valor de Merleau-Ponty, justamente, é que ele sempre procurava manter o laço.
Viveiros de Castro

O senhor vê com simpatia os estudos recentes que focalizam os modos de comunicação: a distinção entre o oral e o escrito, as condições de memorização etc.?

Lévi-Strauss
Não tenho acompanhado muito de perto. A que você está referindo-se?
Viveiros de Castro
Aos trabalhos de Jack Goody, dentre outros; às pesquisas que procuram deduzir várias características das sociedades primitivas a partir das condições de transmissão do saber, e em particular das propriedades da comunicação exclusivamente oral.
Lévi-Strauss
Mas isso me parece um truísmo. Ou é um truísmo, ou é falso.
Viveiros de Castro
Com efeito, essas tendências me parecem marcadas por um grande formalismo, e pouco capazes de enxergar as enormes diferenças internas a categorias tão vastas e vagas como “sociedades de tradição oral”.
Lévi-Strauss
Tudo isso é realmente absurdo. Assim também as comparações que se fazem atualmente… os seminários entre melanesianistas e amazonistas… Isso me parece muito frágil.
Viveiros de Castro Por que o senhor pensa assim?
Lévi-Strauss
Os ameríndios são restos, são fragmentos de sociedades que viveram vários séculos de drama e destruição. Os melanésios, em contrapartida, são gente que estava absolutamente intacta no momento em que se os descobriu. O que se pode tirar dessas comparações? Fazem-se correlações… vi isso outro dia, já não me lembro onde, uma correlação entre o uso de bebidas alcoólicas e a densidade da população. Na América usavam-se substâncias intoxicantes porque a população era dispersa; na Melanésia elas não seriam necessárias porque a população era muito densa…
Viveiros de Castro
Qual a lógica dessa correlação?
Lévi-Strauss
Pois se os melanésios usavam cogumelos alucinógenos, ausentes entre os índios sul-americanos, e se no sudeste asiático, onde a população é densa, tomam-se bebidas alcoólicas a valer…
Viveiros de Castro
Falando na Amazônia, como o senhor vê a paisagem do americanismo contemporâneo?
Lévi-Strauss
Mas o que está acontecendo no Brasil é formidável! É algo de praticamente inédito! Quando conheci o Brasil, o que era a etnologia? Eram velhos eruditos de gabinete que se debruçavam sobre a filologia tupi; era isso, e nada mais. E agora, vemos uma das escolas mais brilhantes da atualidade.
Viveiros de Castro Foi em grande parte graças ao senhor que isso ocorreu.
Lévi-Strauss
Não, não, isso teria acontecido de qualquer maneira. Os meios de comunicação tiveram muito a ver com isso. Se os Estados Unidos estiveram à frente da antropologia durante um certo período, foi porque os índios estavam no mesmo país que os antropólogos, e era relativamente fácil ir até eles. O Brasil se achava, no período em que ali vivi, na véspera da Segunda Guerra, na mesma situação: os povos indígenas em seu território, podia-se ir até lá sem muita dificuldade.
Viveiros de Castro Mas minha impressão é que o impulso da etnologia brasileira deu-se nos anos 60, justamente quando seus trabalhos sobre a mitologia ameríndia vieram a ser publicados.
Lévi-Strauss Eu recuaria um pouco mais, mas se você pensa assim, tanto melhor..
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Viveiros de Castro Parece-me, de qualquer modo, que foi nos últimos trinta anos que se atingiu uma massa etnográfica crítica.
Lévi-Strauss
E foi sem dúvida a contribuição brasileira a principal responsável por isso. Avistei-me ontem com um colega de Santiago do Chile. Ele me dizia: não conseguimos formar etnólogos, os estudantes não querem ser etnólogos. Isso não lhes interessa mais. E contudo, me dizia ele, o que está acontecendo com os índios no Chile é enormemente interessante.
Viveiros de Castro E o que pensa o senhor sobre as pesquisas recentes em arqueologia amazônica? Irão elas realmente modificar a imagem não só do passado, mas também do presente da Amazônia?
Lévi-Strauss
Tudo depende do que vai acontecer nos anos vindouros. Pode muito bem ser que se encontrou tudo que há a encontrar. Parece-me que as coisas começam a ir mais devagar, efetivamente. A menos que se façam novas e sensacionais descobertas.
Viveiros de Castro
O senhor, já em 1952, falava em culturas complexas na várzea amazônica.
Lévi-Strauss
Mas era algo puramente intuitivo, não tinha outro valor que o de um feeling….
Viveiros de Castro E quanto aos problemas da data de chegada dos humanos nas Américas? Quão longe o senhor pensa que esta data será recuada?
Lévi-Strauss Evidentemente, as descobertas de Monte Verde, no Chile, são extraordinariamente perturbadoras*. Seria absurdo fazer predições, entretanto.
Viveiros de Castro
Qual é seu feeling, de qualquer modo?
Lévi-Strauss
Ah, nesses assuntos há tal dose de wishful feeling… Mas 50 mil anos seria uma data razoável. Mesmo se supuséssemos que o Homo erectus tenha estado na América, o que foi sustentado por alguns, como Lumley, que uma vez fez uma nota a esse respeito para a Academia de Ciências…. De qualquer maneira, ele não seria de grande interesse para nós etnólogos, porque o Homo erectus não estava mais lá quando os ameríndios chegaram… Quanto ao povoamento ameríndio, algo como 50 mil anos parece razoável. Pierre Gourou, que era… digo era, mas ele não está morto, enfim, ele está tão idoso que não é mais possível se comunicar com ele – há uns dez anos, quando nos víamos muito, Gourou dizia que havia argumentos geográficos absolutos em favor de uma chegada anterior a 45 mil anos, devido a questões relacionadas à circulação das águas do Artico em direção ao Pacífico.
Viveiros de Castro
Em uma conhecida passagem de O Cru e o Cozido, o senhor diz que a América indígena foi “uma Idade Média que não teve sua Roma”. Não se poderia dizer, entretanto, que ela teve sua Atenas – não no sentido geográfico, mas espiritual? Pois seu trabalho sobre a mitologia demonstra a existência de um sistema pan-americano de pensamento.
Lévi-Strauss Há incontestavelmente um sistema de pensamento. O que coloca muitos problemas: isso supõe que esses povos todos circularam muito mais do que nós imaginamos, e em todos os sentidos.
Viveiros de Castro Como o senhor vê o estado atual dos estudos sobre o parentesco? Estaríamos vivendo uma fase de recuo de interesse no tema?
Lévi-Strauss
Penso que sim; há coisas mais interessantes a fazer, agora…
Viveiros de Castro
Nos últimos anos, certas noções que desempenham um papel central em sua obra sobre o parentesco, como reciprocidade e troca, têm recebido muitas críticas.
Lévi-Strauss
Sim, sim, tenho assistido a isso um pouco de longe… Mas enfim, quando alguém como Godelier acredita ter feito uma grande descoberta quando diz que nem tudo se troca… Grande novidade… Mas é claro que nem tudo se troca – naturalmente! Sabíamos disso desde que Boas explicou que entre os povos da costa noroeste havia bens inalienáveis, além daqueles que se alienam…
Viveiros de Castro
Parece-me que alguns deslocamentos importantes se produziram nessa revisão crítica. Tomemos a noção de troca. Nas Estruturas Elementares ela designava uma instituição empírica, mas também e sobretudo um princípio. Minha impressão é que, agora, reduz-se a troca a uma instituição, que se pode encontrar ali ou acolá, mas que não é certamente um universal.
Lévi-Strauss
Você tem toda a razão. Creio que o que acontece nesse domínio, e em muitos outros, é que as pessoas não têm mais cultura, e que elas se acham na mesma situação intelectual de um século e meio atrás, mais ou menos.
Viveiros de Castro
O senhor permanece acreditando que a noção de troca que o senhor propôs nas Estruturas Elementares é adequada?
Lévi-Strauss Sim, se lhe conferimos um sentido transcendental – ela é a condição que nos permite simplificar o problema, isso é tudo. Não me pergunto se em tal ou tal caso, neste ou naquele povo… enfim, quantas coisas se trocam ou não se trocam!
Viveiros de Castro E sobre a célebre distinção entre natureza e cultura, ela também é bastante discutida.
Lévi-Strauss Ainda não pude ler o livro organizado por Descola, que ele acaba justamente de me dar**. Mas penso que há vários mal-entendidos. Em primeiro lugar, ele [Descola] coloca o problema em termos exclusivamente sincrônicos. Em termos diacrônicos, todas as sociedades que conhecemos pensam que houve uma época em que os homens viviam no estado de natureza antes de alcançar o estado de sociedade. Quando lhe oponho este argumento, Descola me responde: mas nesse estado de natureza tudo – os animais e os homens – estava confundido. Sem dúvida, tudo estava confundido, mas, justamente, era necessário que os animais e os homens se separassem. Em segundo lugar, creio que, quando se diz que a distinção entre natureza e cultura é algo próprio do pensamento ocidental, há um equívoco: não é a distinção em si que é ocidental, mas uma certa atitude diante da natureza. Tal atitude, com efeito, não existe entre os povos estudados pelos etnólogos. Mas, do fato de esses povos sentirem a necessidade de descobrir uma espécie de arbitragem entre a natureza e a cultura, um meio de fazê-las coabitar de maneira satisfatória, não se deduz de modo algum que eles ignorem a oposição. Eles simplesmente a resolveram de uma forma diferente da escolhida pelo ocidente, o qual nega pura e simplesmente os dois termos. Os mitos indígenas procuram mostrar como a cultura se entende com a natureza.
  Viveiros de Castro Admitindo-se a presença de uma distinção entre natureza e cultura no pensamento indígena, ela de qualquer modo parece inverter nossa versão clássica da mesma distinção, e isso tanto do ponto de vista diacrônico como sincrônico. Assim, concebemos a cultura como se constituindo historicamente a partir da natureza, e a humanidade como emergindo de um fundo geral de animalidade…
Lévi-Strauss
Mas essa é uma visão científica, não uma visão bíblica…
Viveiros de Castro
Nos termos em que a formulei, ela me parece caracterizar antes o evolucionismo popular ocidental, que é da ordem do mito, que a teoria científica da evolução. E nesses termos, haveria um contraste com a mitologia ameríndia. Como o senhor mesmo observou em A Oleira Ciumenta, essa mitologia postula que a humanidade é o fundo comum dos seres, e que os animais atuais são humanos transformados. Nesse caso, não é a cultura que se separa da natureza, mas o contrário.
Lévi-Strauss Sim, de modo geral concordo com isso. Penso apenas que seria preciso matizar um pouco sua formulação, porque ela não se encontra, nesses termos, em toda parte.
Viveiros de Castro
E como o senhor formularia a diferença entre a concepção contemporânea de natureza – falo do mundo da física, da relatividade, da mecânica quântica etc. – e a concepção ameríndia?
Lévi-Strauss
A representação da física parece muito mais, no fundo, com o que no caso indígena chamaríamos uma sobrenatureza. Nós consideramos que o mundo da física é mais verdadeiro que o mundo da experiência, mas ao mesmo tempo admitimos que não compreendemos nada dele. Nosso mundo físico é nossa sobrenatureza.
Viveiros de Castro O senhor se refere esporadicamente à noção de sobrenatureza em suas análises da mitologia ameríndia. Como ela se disporia em relação à distinção entre natureza e cultura?
Lévi-Strauss Com efeito, isto é algo sobre o qual não refleti o suficiente. Reconheço que deveria tê-lo feito. Mas não tenho um pensamento claro sobre isso; não cheguei a aprofundar a questão.
Viveiros de Castro De qual livro seu o senhor gosta mais?
Lévi-Strauss
Não tenho a menor idéia, meus livros já não me estão mais muito presentes à mente.
Viveiros de Castro Mas o senhor não parece gostar demasiado das Estruturas Elementares, não é?
Lévi-Strauss
Quando reabro este livro, digo-me: aprendi a escrever melhor desde então… Mas ele tem, ainda assim, um frescor que perdi. É um livro cheio de defeitos – é uma obra de juventude, há uma quantidade de coisas inúteis dentro dele… e outras coisas que são provavelmente falsas…
Viveiros de Castro Há alguma coisa que o senhor gostaria de ter feito, como pesquisa, e que não pôde realizar?
Lévi-Strauss
Sim, fora de minha disciplina; dentro dela, não.
Viveiros de Castro
Sobre o que o senhor está trabalhando no momento?
Lévi-Strauss Sobre nada. Não trabalho – apenas me ocupo, por assim dizer. Sem planos, sem visar resultados, escrevo um artigo de vez em quando. Não tenho um programa, porque sei que se traçar um programa definido não poderei concluí-lo. Não tenho ilusões: estou bastante bem, e talvez ainda viva mais alguns anos; mas o pensamento, isso se deteriora. Não se pode pretender exigir-lhe o mesmo que outrora.
Viveiros de Castro
O pensamento se deteriora com a idade, é certo – mas na imensa maioria dos casos isso começa muito antes dos noventa anos… O senhor ainda viaja?
Lévi-Strauss
Não, não viajo mais. Não tenho mais sequer um passaporte válido. Deixei o meu vencer.

Os deuses canibais – notas sobre a cosmologia dos Araweté

  • Onde estão:PA
  • Quantos são:398 (Funasa, 2010)
  • Família linguística: Tupi-Guarani
  • Dados extraídos do site: Povos indígenas do Brasil

Texto de Karina Rodrigues

Viveiros de Castro enfatiza que a abordagem desta sociedade é o complexo de relações entre os humanos e os espíritos, e a morte é o lugar onde a “pessoa” Araweté se realiza. Os humanos (bidé) encontram-se no centro de um movimento da cosmologia que compõe o universo. Pelo movimento não estático que se define a cosmologia Araweté, torna-se impossível descrevê-los ou analisá-los utilizando os termos sobre a noção de pessoa utilizada por Marcel Mauss, pois eles não se definem como substancia acabada, e sim com um processo em constante movimento.

Entre o plano terrestre e o céu, encontram-se os bidê (humanos), e no céu encontram-se os deuses Mai, que são espíritos não terrestres, divindades que possuem a ciência da imortalidade. Os Ayí são espíritos ferozes que atacam bidés e vivem na terra, mais especificamente habitando as matas. Embora pareça evidente que existe uma relação de oposição e complementaridade entre as partes, não é isso que ocorre na dinâmica entre os dois mundos, instaurado pelo constante devir. No plano celeste também existe numerosas divindades ferozes que comem a alma dos mortos, entre eles os Mai heté que são associados à primitividade. O código canibal representa a cerne da estrutura Araweté, uma vez que eles não comem carne humana, eles comem a carne do inimigo como ato de coragem. Quando bidé encontra um Ayí deve matá-lo e comer sua carne, tornando-se mais forte e aquilo que era seu inimigo, portanto perigoso para os demais. O guerreiro então ficará de resguardo, com a barriga cheia de sangue inimigo, e quando este guerreiro morre o espírito do inimigo sobe junto com ele, causando medo aos May, se transformando em divindade sem passar pela devorarão. Assim, bidé tornou-se Ayí e no plano celeste se transforma uma categoria específica de May. Esse processo não ocorre com todos os mortos terrestres, quando se trata de um não matador, bidé ao morrer e subir ao plano celeste, torna-se automaticamente Ayí para May, pois é como se fosse um estrangeiro, que precisará ser devorado pelos deuses e depois será ressuscitado por meio dos ossos. Os mortos transformam-se em alma terrestre ou celeste e é na morte que a “pessoa” Araweté se instaura, portanto a identidade é um constante “tornar-se outro”, é através dela que o canibalismo fundamenta-se como um ato crucial para o eterno devir Araweté em que os deuses são o “nós”, e o humano enquanto morto o inimigo. A vida na morte não é algo negativo, e sim um processo de transformação, onde os verdadeiros bidé são os May, e a pessoa está sempre em um processo de construção. Como ressalta Viveiros de Castro, o canibalismo é a aliança entre os vivos e os mortos, e os deuses “são sempre definidos como os que comem: na terra a comida dos homens; no céu, os próprios homens”.

Ps: Observações feitas após ler o texto Deuses Canibais de E. Viveiros de Castro.

Resposta desse blog aos últimos comentários do Pastor Silas Malafaia em entrevista a revista Época

A resposta desse blog ao pastor Silas Malafaia, se resume ao vídeo abaixo:

Para ver o comentário do pastor, acessem o link (mas tomem antes o seu OMEPRAZOL).

http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/noticia/2011/11/silas-malafaia-diz-que-vai-fornicar-toni-reis-lider-da-causa-gay.html

Vivenciando e anotando: excercício de antropologia.

Conforme orientação da professora Caroline Freitas, partimos em grupo em direção a Praça Vila Boim. O percurso teve início na saída da fundação de ensino a qual o grupo pertence, e o caminho estabelecido previamente proporcionava diversos aspectos para observação. Houve uma mudança no cenário (em relação à urbanização e arquitetura) no final da Av. General Jardim com o início da Rua Veridiana.

Seguindo adiante na Francisco Matarazzo, observei a extensão do que se iniciou na rua anterior: mansões com arquiteturas antigas e propriedades com grandes extensões. Os casarões antigos hoje pertencem a instituições privadas, embora não possa afirmar se, em caráter de aluguel ou não. A exemplo, a embaixada Italiana e os dois imóveis com a logomarca do banco Itaú.

Ao passar em frente ao moderno shopping Higienópolis, pude sentir uma ruptura com a estética mencionada anteriormente. A rua torna-se mais movimentada, evidentemente devido à concentração de lojas dentro do shopping. Até então, as ruas transmitiam a solidão do início da noite. Eventualmente alguns passantes atravessavam apressadamente as ruas, seguramente a caminho de suas casas após terminar algum trabalho na região (empregadas domésticas, lojistas, e etc), e também algumas pessoas que distraidamente caminhavam sozinhas, com seus companheiros ou com seus cachorros. Nas proximidades do shopping havia uma concentração de táxis a espera dos seus passageiros, e o número de passantes acompanhados com seus cães de pequeno e grande porte aumentava, pois dentro desse shopping (ao contrário de outros) é permitida a circulação de animais de estimação. Certamente essa característica do shopping diz muito sobre o perfil daqueles que o freqüenta.

Logo, pude avistar um patrimônio que causou grande surpresa ao constatar que se tratava de uma loja de roupa infantil. Devido à curiosidade, dispensei alguns segundos para observar as características que julguei interessante registrar. A loja era uma mansão antiga, com uma grande escada no centro. Não subi essa escada devido à abordagem da lojista, entretanto pude observar a parte baixa que era constituída por cômodos com decoração rústica, brinquedos e vestimentas de crianças. Na saída da loja, dando continuidade ao percurso, me surpreendi com a extensão geográfica do Colégio NSra. Sión construído, conforme indicação na entrada, em 1901. Embora o colégio pertença a alguma instituição religiosa e cristã, o mesmo não expunha nenhum crucifixo.

Do outro lado da rua, havia o colégio rotariano em um edifício mais modesto, porém localizado em uma área extensa. As ruas que percorremos são muito arborizadas, com passantes menos apressados, o que transmite a ideia de qualidade de vida superior a de muitos paulistanos localizados em outras regiões. Evidentemente esta é uma área onde o custo de vida é mais caro, o que limita o acesso a pessoas de baixo poder aquisitivo. Aqueles que caminhavam com seus cachorros possuíam o mesmo perfil comportamental: limitavam suas paradas às necessidades dos seus bichos de estimação.

Não havia qualquer tipo de entrosamento entre elas, as relações de sociabilidade pareciam ocorrer dentro dos bares que estão concentrados em uma das frentes do parque. Todos parecem terem sido estrategicamente decorados para atender as exigências do público que ali freqüentam. Os ambientes desses bares assemelham-se a “pubs”, com luminárias e som baixo, proporcionando momentos de descontração e conversas entre amigos. Entre os bares, existem lojas também, que exibem vitrines com diversidades de roupas e acessórios.

Antes de chegarmos ao ponto de encontro com o grupo, analisei as características que haviam chamado minha atenção durante o percurso, e observei que todas estavam relacionados à urbanização: não havia pichações nos muros ou sujeira espalhadas pelas ruas. O lixos dos prédios estavam todos muito bem organizados. Este último item explica-se pela obrigação de funcionários encarregados da tarefa pela coleta dos lixos domésticos. Notei também que havia poucos orelhões, o que também nos diz muito sobre a região. Provavelmente para aqueles que ali frequentam este não seja um problema, pois o acesso a telecomunicações deva ocorrer de maneira individual e não comunitária.

A Praça Vila Boim é bastante iluminada, e arborizada. No centro dela existe uma figueira robusta, e uma banca de jornal que funciona durante a noite. Na praça havia uma concentração maior de moradores passeando com seus cachorros, porém não havia crianças (talvez isso se explique pelo horário). As pessoas que aparentemente residem nessa região não interagiam entre si, somente com o espaço de onde tiravam algum proveito pessoal, como caminhadas e passeios com seus cães.

Bronislaw Malinowski junto as Ilhas Trobiands

Malinowski inicia a pesquisa entre os nativos das Ilhas Trobiand, com o objetivo de penetrar na cultura de um povo e desvandar as suas particularidades.

               As Ilhas Trobriand são atóis coralinos que formam um arquipélago de aproximadamente 440 km² ao longo da costa oriental da Nova Guiné.

  Essa pesquisa de Malinowski, não tem fundamento apenas antropológico, mas também está focada no desenvolvimento de sua metodologia. Malinowski afirma, que existem poucos antropólogos preocupados em apresentar métodos de pesquisa, e julga extremamente necessário que existam métodos e que estes sejam apresentados ao leitor, para que ele compreenda a estrutura dos fatos e consiga observar também de onde as informações surgem e compreender melhor o que lhes é apresentado, principalmente quando se trata de uma pesquisa em campo, no qual o pesquisador e o objeto de pesquisa estão em comunicação.

Os métodos devem ser definidos pelo pesquisador e no decorrer da pesquisa, ele deve moldar esta metodologia de acordo com suas necessidades. O autor afirma que é muito importante estabelecer critérios para organização dos dados colhidos e que o etnógrafo deve ter essa consciência para que sua pesquisa seja

No decorrer da pesquisa entre os nativos, o autor vai estabelecendo os critérios e descrevendo-os como foi formulando essa metodologia. Em todos os momentos, Malinowski demonstra clareza de como os objetos de pesquisa lhe chegam, ora por iniciativa (buscando inclusão no grupo dos nativos), ora simultaneamente (os objetos de pesquisa surgem de situações imprevistas). Ele mostra dessa forma a importância em estabelecer contatos e também a importância em manter-se prevenido e atento ao que acontece em todos os momentos. Um parto, uma briga, um nascimento ou uma morte, por exemplo, são situações que agregam a pesquisa e que surgem involuntariamente. A aproximação com os nativos acrescenta os dados, porém deve ser feita com cautela, pois se deve utilizar a observação antes da aproximação, pois em cada grupo (nativo ou não) são estabelecidas regras sociais e que devem ser respeitadas (umas são utilizadas por simples questão de costumes, outras aparecem como questão de etiquetas e outras podem ser consideradas como uma prática imoral).

O autor cria dessa forma, uma nova forma de buscar fatos e evidências através do trabalho em campo e de uma metodologia científica, que lhe proporciona resultados relevantes.No texto, as informações são transmitidas de maneira organizada, e seus relatos são extremamente detalhistas, semelhante a uma aula sobre aplicações de pesquisa.

Os laços antropológicos da terceira idade – Observação participante no Capão Redondo.

São Paulo, 12 de Setembro de 2010. Zona Sul , Capão Redondo.

A cidade amanhece com seus moradores ora sonolentos, ora apressados em busca da realização de seus compromissos. Alguns moradores dessa região da periferia da cidade, já estão prontos para iniciar sua rotina dominical, entre eles os idosos são os que mais me chamam a atenção. Passos distraídos caminham em direção ao Parque Santo Dias, que está localizado próximo a uma das avenidas mais movimentadas do bairro. O meu destino é o mesmo, pois busco nesse primeiro relatório, observar as perspectivas que motivam aos que pertencem ao que chamamos hoje grupo da “melhor idade.”

Aos poucos eles vão chegando, aproximam-se uns dos outros, e caminham para o local do parque onde acontece a ginástica direcionada a esse publico.

No geral, as expectativas que os motivam são as mesmas, manter o equilíbrio da saúde do corpo e da mente, porém existe algo maior que os une nessa rotina. Observando a participação dos idosos e a forma como eles se relacionam, pude notar que existe um elo cultural maior do que previa.

Eles participam ativamente das atividades direcionadas ao crescimento e urbanização do bairro, e conhecem melhor que muitos especialistas as histórias e construção social do meio em que vivem.

Nesse primeiro momento, optei em escutar as conversas para colher informações e relatos de diferentes olhares, para que o material de pesquisa seja significante, e me inspirei, mesmo que de forma “tímida” nos relatos apresentados por B.Malinowski.

Essa observação me direcionou para um novo objeto de pesquisa, a construção social desse grupo pertencente ao mesmo bairro. O que me fez categorizá-los como grupo, foi a percepção desse elo cultural adquirido ao longo dos anos, e que somente pode ser percebida nessa fase da vida de ambos, pois é simplório demais afirmar que pertencem a um grupo social, limitando-os ao quadro de desenvolvimento biológico do ser humano, e deixar de observar a construção social de suas histórias seria um grave equívoco.

A manhã desse domingo estava ensolarada, e as conversas surgiam naturalmente entre eles. Assuntos sobre as atividades do parque e o crescimento do bairro eram o que predominavam. Eles demonstravam, mesmo que de maneira informal, conhecer muitos detalhes sobre o que era e o que é hoje o Capão Redondo. Estes demonstraram também, orgulho nas palavras, orgulho de sua participação mesmo que apenas como parte de um todo, orgulho de ter vindo com suas famílias para o bairro, quando este era apenas uma localidade distante, em que terras foram compradas por famílias , em sua maioria adventista que vieram para trabalhar no Instituto Adventista de Ensino, atual UNASP. Esse grupo, hoje pertencente a terceira idade possui suas raízes fincadas nesse bairro, disseminam o orgulho pelo bairro através de suas histórias narradas para os demais moradores, automaticamente esse orgulho se propaga aos demais.

Embora exista muitas coisas em comum, entre eles não existe a consciência desse elo cultural, eles apenas vivem e constroem suas expectativas baseada nessas vivências, porém não possuem esse olhar de um todo, do que representam. As individualidades de cada um passa a ser menos importante (pelo menos para o foco dessa pesquisa) quando passamos a observá-los como um grupo que se desenvolveu como resultado do meio em que vivem. Esse meio, os direcionou para diferentes objetivos pessoais, uns tornaram-se comerciantes no bairro, outros são aposentados. Alguns possuem a saúde e a aparência mais zelada que outros. Talvez podemos dizer (sem uma análise muito profunda) que o resultado desse envelhecimento saudável entre a maior parte dessa geração do Capão Redondo, seja resultado da tradição implantada pelos primeiros moradores, a tradição da saúde controlada pelos costumes adventistas.

Por outro lado, é comum encontrar nesse bairro, um outro lado desse processo de envelhecimento, aqueles que se opuseram as tradições adventistas e que fazem da boemia uma verdadeira rotina. Podemos encontrá-los nos bares e padarias, e os assuntos que os rodeiam são, mesmo que com narrativas e perspectivas diferentes, os mesmos. Como aconteceu no domingo anterior , por volta das oito horas da manhã.

Voltava de um bar do centro da cidade, e desci com dois amigos no ponto em frente a padaria, não pensamos duas vezes, continuamos nossa jornada pelos bares e padarias da cidade, como de costume. Em meio as nossas conversas e rodadas de cerveja, um senhor que chamarei de H. (65 anos) se interessou por nossas conversas e colocou uma cerveja em nossa mesa, dizendo estar paga por ele. Aconteceu o inverso, não foi necessário grandes esforços para me aproximar dele para colher seus relatos pessoais, ele mesmo veio até nós, com muita simpatia e alegria em participar da nossa mesa. As conversas variavam, e como estava com dois músicos na mesa, falar sobre clássicos foi inevitável. Ele nos mostrou seu talento com a música e cantou para a mesa trechos de Loius Armstrong, incorporando perfeitamente o original, pois possui características físicas semelhantes, é negro, calvo e possui uma voz incrivelmente rouca. O senhor H . contou-nos sua história no Capão Redondo, e demonstrou muito carinho com o seu passado e suas lembranças neste bairro. Contou-nos sobre suas vivências pelo Brasil a fora, pois trabalhou muitos anos em uma empresa que prestava serviços de arquitetura, ele era o marceneiro responsável pelo desenvolvimento dos materiais necessários. Hoje, aposentado prefere permanecer no bairro, pois sua vida é reservada e tranquila. Não costuma participar das atividades do parque, ele prefere tomar sua cerveja na padaria com seus amigos, e conquistar novas amizades. Após passar por um processo de internação devido a um infarto, hoje ele equilibra mais a dose da cerveja e evita cigarros. Esqueci de mencionar, que ele se considera um cidadão brasileiro, embora tenha nascido no Peru. As viagens que o trabalho lhe proporcionou ao longo de vida, criou-lhe um grande sentimento de nacionalidade. Narrou de forma natural e descontraída sobre suas passagens pelo Mato Grosso, Rio de Janeiro, e outros lugares do país, e os rastros que deixou com esse passado considerado por ele, bem vivido. Em cada parte em que esteve, cultivou amigos, mulheres e até um filho que não o conhece.

A história do senhor H. serve para ilustrar o antagonismo que existe nessa geração. De um lado, encontramos idosos ativos e preocupados com alimentação e saúde, do outro lado, encontramos idosos saudáveis, sedentários e que não trocam um copo de cerveja com os novos amigos por quaisquer tradições religiosas, mas a cultura que ambos reproduzem involuntariamente em suas palavras, é sem dúvida o elo que os une nessa sociedade, e o que nos faz categorizarmos como um grupo, pertencente a melhor idade.